História
História | origem da falcoaria
A falcoaria (ou cetraria) nasce como uma forma de caça, para obtenção de alimento e como forma de subsistência. Ao longo do tempo, com o sedentarismo do homem e com a evolução de novas técnicas, vai-se transformando, primeiro numa atividade lúdica destinada a uma classe elitista na idade medieval, e mais tarde - já no século XX/XXI - numa arte ao alcance de todos.
A origem da falcoaria é muito difícil de determinar, por não existirem registos históricos precisos, mas possivelmente terá surgido na Ásia Central no período neolítico, durante a pré-história. Os primeiros registos escritos sobre falcoaria surgem nos séculos I e II a.C. - existem referências à oferta de falcões aos príncipes chineses da dinastia Hia por volta do ano 2200 A.C.. e a mais antiga gravura retratando um falcoeiro foi encontrada nas ruinas de Khorsabad, na antiga mesopotâmia (hoje, Irão e Iraque) e data de 1700 A.C..
Os árabes utilizavam falcões para caçar em sítios inóspitos. Ainda hoje, no Médio Oriente, os falcoeiros levam os seus filhos para o deserto para os ensinarem a lidar com as aves e acima de tudo para os motivar a criar com elas uma ligação.
Mesmo sem registos da arte da falcoaria no Egito, encontramos o falcão como símbolo do deus Hórus - deus dos céus, que mais tarde foi Rei dos vivos.
Por seu lado os romanos usavam o bufo-real para caçar, ou pelo menos assustar, aves de rapina diurnas. O próprio César treinava falcões para matar os pombos-correio, e desta forma boicotar a comunicação entre os seus inimigos.
História | falcoaria em Portugal
A falcoaria está presente em Portugal (assim como em toda a Península Ibérica) desde a origem da sua nacionalidade, pensando-se que foi introduzida no século V, a norte pelos Suevos e Visigodos e a sul pelos Árabes.
É nos reinados de D. Fernando (1345) e de D. Sebastião (1578) que a falcoaria portuguesa atinge uma grande expressão, fazendo parte do dia a dia quer da nobreza quer do próprio Rei. No entanto, ao longo dos séculos outros reis portugueses se dedicam também às lides cetreiras: D. Afonso IV, D. João I (Mestre de Avis), D. Duarte, D. Manuel e D. João III.
Entre 1367 e 1383, a pedido do Rei, Pêro Menino - o grande falcoeiro do Rei D. Fernando, escreve um dos tratados mais completos sobre falcoaria, o Tratado de Pêro Menino (24 capítulos sobre falcoaria, doenças das aves e respetiva terapêutica médica e cirúrgica). Entre os tratados medievais sobre o mesmo tema e escritos em português, este foi o que alcançou maior autoridade e difusão, tanto em Portugal, como em Castela.
Em 1568, durante o reinado de D. Sebastião, é criado o cargo de Falcoeiro-Mor, equiparado ao cargo de Ministro e desempenhado pela Nobreza palaciana. É ainda durante o reinado de D. Sebastião que a falcoaria em Portugal entra num período de decadência; e D. João IV, após a restauração da independência em 1640, extingue o cargo de Falcoeiro-Mor.
No século XVIII (provavelmente nas primeiras décadas), durante os reinados de D. João V e de D. José, a falcoaria real portuguesa assiste a um novo renascimento e é construído o Palácio da Real Falcoaria em Salvaterra de Magos. O período de maior ascensão da Falcoaria, dá-se em 1752 quando chegaram ao Palácio da Falcoaria Real, 10 falcoeiros holandeses de Valkenswaard, para ensinar esta arte. A partir do início do século XIX, esta atividade começa a perder o seu fulgor e entra lentamente em decadência; dada a instabilidade política vivida nos anos 20 e 30 e a abolição das coutadas em 1821, a Falcoaria Real de Salvaterra de Magos é extinta após as invasões francesas, que levaram também ao exílio da família real no Brasil.
A falcoaria do século XIX é caracterizada por alguns clubes privados, que acabam por enfraquecer no início do século XX com as grandes guerras; e durante a segunda metade do século é mantida por poucos praticantes, entre eles José Albano Veloso Coelho, Nuno Sepúlveda Veloso e Alfredo Baptista Coelho.
No princípio da década de 90 é criada a Associação Portuguesa de Falcoaria e o Centro Falco – Associação para a reprodução de aves de presa.